Hermano Pinto (*)
Após um ano em que vimos os primeiros passos concretos para a chegada do 5G no Brasil, discussões sobre a aplicabilidade do metaverso e a consolidação da transformação digital como fator determinante em todos os setores econômicos, fica a expectativa sobre quais serão as principais tendências tecnológicas em 2023.
Os segmentos tecnológicos que devem se manter em destaque no próximo ano são Conectividade, Inteligência Artificial aliada à Internet das Coisas, o que nos leva à AIoT (Inteligência Artificial das Coisas), e Plataformas as a Service (PaaS).
É importante destacar que essas tendências que passaremos a ver com mais frequência nos próximos anos já estão presentes e em forte utilização pelas empresas, indústrias e seus clientes. O que será acelerado a partir de 2023 é o aperfeiçoamento na entrega e no desempenho de todos esses serviços.
A conectividade continua sendo o grande tema que permeia todas as soluções e inovações. Vivemos em um mundo com intensa interação e o grande desafio é reconhecer quais serão os atores e os agentes deste serviço, cada vez mais fundamental e presente para todos os segmentos da economia e da sociedade.
É preciso estar conectado, seja você uma indústria, um pequeno varejo, uma corporação internacional ou um usuário final.
A grande inovação estará no formato mais eficiente e ágil para entregar a conectividade que as pessoas e empresas precisam. Não basta simplesmente oferecer a conexão. É necessário que exista garantia de entrega do que foi contratado e, de preferência, configurado à necessidade daquele cliente.
Do mesmo jeito que o mercado viu o boom das ISPs e PPPs, a partir de agora surgirão agentes orientados ao fornecimento de serviços de internet estável com cibersegurança e demais garantias relacionadas às necessidades de cada cliente.
Grandes investimentos em máquinas e equipamentos terão seu retorno de produtividade e eficiência garantidos a partir de sua ampla conexão e uso extensivo de suas funcionalidades.
Operações gigantescas como de mineração, que movimentam máquinas de 300 a 500 toneladas, assim como no agronegócio, com tratores e máquinas para o plantio, irrigação e colheita com múltiplos sensores e computação de dados, ganharão em desempenho com mais acessos em baixa latência.
O conceito de redes privadas não é novo, mas passa a transcender os limites de uma rede puramente física, incluindo elementos como computação em nuvem, processamento de borda, aplicativos e armazenamento totalmente virtualizados, amplamente alavancados com a mobilidade, segurança e flexibilidade trazidas pelo fatiamento de rede (“slicing”), habilitado pelas redes 5G.
Isso é possível porque o 5G é mais do que uma evolução de padrão de internet: é uma tecnologia realmente nova de serviços móveis, que viabiliza soluções que antes não eram possíveis.
O 5G agrega não só mais velocidade para a internet móvel, mas uma resposta ao envio de dados (latência) muito menor, além de uma capacidade muito ampla de processamento de dispositivos conectados.
A Inteligência Artificial (IA) faz uma intersecção com a conectividade e será cada vez mais aplicada de maneira a otimizar processos. Não se trata aqui de um robô que fala com o ser humano, como popularmente as pessoas pensam a IA, mas, sim, de máquinas cada vez mais otimizadas por meio de machine learning e deep learning, aperfeiçoando sua compreensão do ambiente.
Isso será possível porque as redes trabalham cada vez mais de maneira orquestrada e são mais flexíveis para se adaptarem a qualquer situação, como ocorreu no auge da pandemia de Covid-19, quando o tráfego mundial cresceu 10 vezes e as redes suportaram a demanda.
O uso da IA estará presente de maneira significativa na compreensão das demandas e na correspondente gestão das redes para fazer entregas com qualidade.
Este “micro entendimento” das demandas ocorre através do AIoT (AI + IoT), que consiste em dispositivos IoT com IA, habilitados para interagir com diferentes formatos e situações tecnológicas e aprender com a rede de maneira a adaptar o seu desempenho e dosar recursos computacionais e energéticos, conforme a necessidade, o que contribui não apenas com a eficiência dos processos, mas também com a inexorável tendência por soluções sustentáveis.
Todas as tecnologias existentes já são usadas em modelos de negócios em plena operação, mas seguem evoluindo e sendo aprimoradas. As inovações e tendências que veremos ganhar terreno nos próximos anos serão possíveis por causa de um movimento importante de aculturamento, tanto de quem vende quanto de quem usa.
Essa evolução vai ocorrer à medida que as empresas passarem a entender mais de seus próprios processos e dos serviços e soluções oferecidos pelas empresas de tecnologia.
Nesse sentido, a mão de obra qualificada tem um vasto espaço de crescimento, não somente no aspecto técnico de atuação e planejamento das transformações tecnológicas, mas também na capacitação específica de entendimento das necessidades de diferentes indústrias e sua tradução em serviços eficientes para atender as especificidades de forma eficiente e customizada.
As “Plataformas oferecidas como Serviço” (PaaS) representam mais uma forte tendência que deve deslanchar ainda mais no próximo ano.
Importante elemento que compõe o quadro da evolução do setor de telecomunicações, pois estão presentes em praticamente tudo, uma vez que as plataformas são as bases para os mais diversos ecossistemas, substituindo um mundo de “protocolos fechados e concentração informacional”, que por anos dominaram as arquiteturas de TI (e de OT).
As soluções PaaS ainda apresentam um custo elevado e não são acessíveis para todos os níveis, porém esse cenário deve mudar aos poucos e à medida que empresas especializadas passarem a fornecer o serviço de plataforma para pequenos negócios. Esse modelo de monetização deve evoluir de forma que essas empresas atuem como brokers de plataformas maiores e mais pesadas.
Outras inovações que devem se tornar mais presentes e consolidadas, conforme a consultoria internacional de tecnologia Gartner, estão de certa forma ligadas às tendências citadas acima, pois é por meio de conectividade de qualidade, segurança cibernética com redes providas pelo 5G, Plataformas “as a Service” em nuvem trabalhando com uso de inteligência artificial aliada à IoT, que superaplicativos, sistemas digitais imunes e gerenciamento de confiança e segurança de IA podem ser desenvolvidos. Essas tendências estão estritamente ligadas ao fortalecimento de redes, presença na nuvem e segurança de dados.
O metaverso, outra tendência importante para 2023 de acordo com Gartner, já mostrou várias propostas, testes e possibilidades de aplicação, e é preciso sinalizar que muito foi construído para os usuários finais (B2C), com espaço para crescer e trazer soluções, mas ainda com expectativas difusas para os próximos anos. Entretanto, parafraseando o cientista Silvio Meira, ainda estamos na “era do Metaverso discado”, e muita coisa ainda irá mudar.
Já no segmento B2B, o metaverso ganha força e cada vez mais aplicabilidade. Grandes indústrias do porte da BMW, Hyundai e Siemens, por exemplo, assim como o Exército dos Estados Unidos, já fazem uso com sucesso em suas linhas de produção, criando projetos, treinamentos, simulações variadas, manutenção de helicópteros das tropas e manuseio de reatores atômicos, entre outros, tornando a vivência simulada cada vez mais próxima da realidade e com resultados concretos para esses segmentos.
As tendências de tecnologia em 2023 já estão em nossas mãos: presentes na maior parte das operações do dia a dia, movimentando recursos e equipes por todo o planeta e em muitas indústrias. A diferença é que a partir do ano que vem passaremos a vê-las com mais clareza e, por meio delas, seguiremos inovando durante muitos e muitos anos.
(*) Hermano Pinto é diretor do Portfólio de Tecnologia e Infraestrutura da Informa Markets, responsável pelo Futurecom, maior evento de tecnologia, telecomunicações e transformação digital da América Latina.